O futuro do tratamento para hemofilia



Rota tecnológica mais promissora para o Fator VIII recombinante, mostrando a evolução no tempo e as tecnologias emergentes. A direção da seta mostra o fluxo de conhecimento

 O futuro do tratamento para hemofilia

Coordenadora do InGTec, a professora Geciane Silveira Porto conta que, durante o desenvolvimento do método, traçaram a rota tecnológica para o Fator VIII recombinante (proteína sintética de coagulação do sangue, utilizada para tratar hemofilia). O estudo é resultado do pós-doutorado do biólogo molecular e biotecnologista Cristiano Gonçalves Pereira, que trabalhou com supervisão de Geciane e contou com informações dos pesquisadores Dimas Tadeu Covas e Virgínia Picanço-Castro, do Centro de Terapia Celular (CTC) do Hemocentro de Ribeirão Preto.

A equipe do Hemocentro é responsável por uma patente sobre método de produção do Fator VIII e garante que os resultados das análises da rota do Fator VIII, obtida por Geciane e Pereira, são importantes na identificação das tecnologias mais promissoras neste setor e na orientação de novas investigações.
O estudo analisou cerca de três mil patentes com 20 a 30 páginas cada, depositadas nos últimos 20 anos, e os resultados acabam de ser publicados na Nature Biotechnology. Como principal tendência para o futuro da tecnologia do Fator VIII recombinante, encontraram a associação com outra molécula [veja abaixo].

“Esse é um setor que vem crescendo nos últimos anos”, afirma Geciane.  Principal terapia para hemofílicos – pessoas com deficiência do Fator VIII que necessitam tomar frequentemente injeções dessa proteína – o Fator VIII recombinante é uma tecnologia que demanda inovação. E o interesse por essas inovações se justifica pelos problemas que enfrenta atualmente: meia-vida curta da proteína sintética obriga pacientes a tomar injeções frequentes e, por ser um corpo estranho, pode ser rejeitada pelo organismo que a recebe.

As análises da rota tecnológica para o Fator VIII recombinante mostram a evolução do conhecimento científico dessa proteína da década de 1996 até hoje. O desencadeamento se dá da mais nova tecnologia até a que deu origem a todas as demais. Conta o pesquisador Pereira que “muitas delas já viraram produto, mas como hoje as tecnologias emergentes devem oferecer meia-vida mais longa, essas são as mais promissoras”. 



E, para ter futuro nesse setor, as novas tecnologias precisam associar ao Fator VIII moléculas que prolonguem a meia-vida da proteína e, ao mesmo tempo, aumentem a eficiência da terapia. O paciente então precisará de menos doses do produto.

O estudo identificou também que hoje duas startups têm a tecnologia mais emergente nesse mercado. Pereira diz que elas ainda estão em testes, mas são as mais sofisticadas. Ainda segundo o estudo, uma área de inovação surgiu nos últimos anos, a de moléculas conjugadas para o Fator VIII recombinante.

Parcerias são estratégicas para a inovação

“As tecnologias mais promissoras na produção do Fator VIII são resultado de cooperação entre empresas”, dizem os pesquisadores. E foi observando as redes de cooperação estabelecidas e os movimentos desse mercado que verificaram a eficiência do fator cooperação para este setor. O estudo dessas redes identificou os atores mais influentes no mercado, o modo como cooperam e os mais abertos ao estabelecimento de parcerias.





O mercado mundial de inovações tecnológicas vem, segundo Geciane, oferecendo oportunidades para que startups, por exemplo, se juntem a empresas maiores e produzam tecnologias superiores às líderes de mercado. “Esse movimento de parcerias revela as decisões estratégicas das empresas no setor.”

O movimento das empresas que desenvolvem o Fator VIII caminha no sentido de superar as duas limitações da proteína sintética: diminuir a resposta do corpo para o que não deveria ser reconhecido como estranho e aumentar a meia-vida da proteína. “Este é o foco no qual as empresas estão apostando suas fichas”, revela a professora, chamando a atenção para o fato de que esta é uma informação que nenhuma empresa fornece e só foi possível obter pela análise do caminho percorrido na construção da tecnologia.

Para Geciane, o potencial de oferecer respostas do método desenvolvido na USP promete. Pesquisadores, investidores, agentes de políticas públicas, garante ela, podem usar a ferramenta para saber qual dos projetos está na fronteira do conhecimento, o que pode ajudar na tomada de decisões.

Ferramenta traça caminho de tecnologia do laboratório à patente

Aplicada a quase três mil patentes de tratamento para hemofilia, técnica foi capaz de antecipar novas terapias

Sistema usa, entre outras técnicas, o que os especialistas chamam de “mineração de patentes através de análise de redes”. Pesquisa aplicou o método para analisar a rota tecnológica do Fator VIII, principal tratamento utilizado para hemofilia – Arte: Jornal da USP

Pesquisadores da USP em Ribeirão Preto criaram um método que identifica rotas tecnológicas: caminhos percorridos por determinadas tecnologias, da mais antiga até a mais promissora. O recurso oferece possibilidades amplas de análises, com destaque para previsão de tecnologias emergentes. O cenário antecipado de inovações deve propiciar tomada de decisões e investimentos em futuras tecnologias.

O sistema usa, entre outras técnicas, o que os especialistas chamam de “mineração de patentes através de análise de redes”, que permite traçar uma rota tecnológica a partir de um banco de dados mundial de patentes. Com as informações, podem ser analisadas e entendidas as relações entre as empresas e instituições detentoras das patentes e os caminhos do conhecimento mostrados pelas citações tecnológicas (o depósito da patente, obrigatoriamente, indica os conhecimentos que utilizou).

Além de mostrar como se deu a construção de uma determinada tecnologia, a ferramenta evidencia também seu atual desenvolvimento – quem são os desenvolvedores; como foi a evolução da quantidade de patentes naquela área; quais são as empresas, de onde elas surgiram e quais os temas mais importantes. Tudo 100% desenvolvido na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, com recursos da Fapesp, pelos pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Inovação, Gestão Tecnológica e Competitividade (InGTec).

 


InGTec

Núcleo de Pesquisa em Inovação, Gestão Tecnológica e Competitividade, o InGTec atua em pesquisas e projetos voltados à gestão da inovação e desenvolvimento tecnológico. Trabalham com inovação aberta para incentivar capacitação e criar cultura de inovação e transferência de tecnologia.

Também são alvos de seus estudos o desenvolvimento de ferramentas para inteligência tecnológica, os processos de gestão da inovação, a análise de impactos e os indicadores de inovação.

Entre as linhas de pesquisa nas quais atuam, estão: Cooperação empresa – universidade/ instituto de pesquisa: sob a ótica da hélice tripla, inovação aberta e redes de cooperação; Habitáts de inovação – Incubadoras e Parques Tecnológicos; Indicadores de inovação e de produtividade; Internacionalização de P&D; Prospecção, valoração, comercialização de tecnologias e Empresas de base tecnológica (EBT). 

Participam do InGTec pesquisadores e estudantes das áreas de administração, economia, ciências da  informação e biociências.


Fonte: Jornal da USP - Data 11/07/2018

 

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